Mumuzinho: grande nome do pagode e, agora, empresário, fala sobre racismo: ‘Isso não me para’

Com perseverança e talento, o cantor, compositor e ator Mumuzinho enfrentou situações difíceis na vida. Hoje, é um vitorioso. “O racismo acontece. Mas a gente passa por cima. As pessoas acabam fingindo que ele não existe, mas existe. O melhor remédio contra isso é trabalhar, ter força, coragem e eu sou a prova viva. Já sofri muito, mas isso não me para. E eu estou aqui, tenho o meu recém-inaugurado Bar do Mumuzinho, no Shopping da Gávea, sou referência para jovens negros, tenho essa responsabilidade. Incentivar os jovens é o mais importante”, enfatiza ele, que acaba de lançar Resenha do Mumu, seu novo álbum e DVD.

Mumuzinho tem consciência de que a fama o livra de certas situações desagradáveis, mas lamenta que o mesmo não aconteça com seus familiares e com as pessoas em geral. “Hoje, muitos disfarçam quando me veem e eu não percebo. Se eu chego em um shopping, em uma loja de rico, as pessoas não vão olhar pra minha cara com esse outro olhar, porque sabem que tenho um poder aquisitivo legal. Mas os meus parentes que moram lá em Bangu, Realengo, Magalhães Bastos, passam o dia a dia. Vão olhar meio assim para minha mãe que ninguém sabe quem é, meu pai, meu irmão. O país que a gente vive é assim”, pontua.

Com trabalho reconhecido, Mumuzinho, agora, é também empresário. Filho de uma professora e de um motorista de empresa, ele sabe que em um país como o Brasil, muita gente não tem oportunidades de chegar lá. “É aquela história de um leão por dia, então, quando vemos uma vitória dessa, a gente acaba ficando bem feliz e entusiasmado para impactar em outras pessoas, que elas consigam também, porque tem muita gente boa aí que, às vezes, têm medo de ousar. Eu tive infância difícil. Mas sou um cara que não tenho medo. Eu sempre busquei, batalhei muito por tudo”, recorda.

Mumuzinho vibra com seu bar e conta que ao decidir enveredar por esse caminho, pediu conselhos a Zeca Pagodinho, uma de suas referências musicais. Vale lembrar que o amigo é dono do Bar do Zeca. E Alcione, outra inspiração, tem o Bar Alcione – A Casa da Marrom. “Frequento muito a casa dele. Então, contei que estava querendo montar um bar. Ele, que sempre deu força a tudo que eu faço, é um cara muito generoso, me disse para ir com tudo. Me deu o aval e eu fui. Aqui tem um palco que vai receber um monte de amigos, pessoas queridas. Também dou uma canjinha, fico bem à vontade”, diz.

A carreira de ator começou em filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite e, a de cantor, abrindo shows para diversos artistas e ao participar do Esquenta, programa comandado por Regina Casé, passou a chamar mais atenção do público e as oportunidades foram surgindo. Hoje, com seu espaço conquistado na música brasileira, ele é um cara agregador que dá oportunidades para jovens artistas. “Estou sempre de olho nos novos, observo muito, chamo para cantar no meu palco. Gosto muito de trazer essa galera pra perto de mim. O Bar do Mumuzinho também é justamente isso”, explica ele que não esquece das raízes em Realengo. O grupo Vou Pro Sereno, por exemplo, desse bairro da Zona Norte, já se apresentou no Bar. Com capacidade para 400 pessoas, o espaço conta com camarotes vips e dois shows são realizados todas as noites. A cozinha, sob o comando da chef Adriana Fonseca, ex-Bracarense, oferece desde comida de boteco até vegana.

Ser empresário é mais uma faceta na vida de Mumuzinho. “Eu comecei como ator. Ser cantor veio bem depois, aconteceu naturalmente. Na verdade, só busquei porque tinha uma roda de samba na porta da minha casa e eu comecei a gostar. Mas não era algo que eu desejava para a minha vida. Queria ser ator, fazer cinema, teatro. As pessoas que apareceram na minha vida que foram me ensinando, me colocando no meio da música, no mercado”, frisa ele, que já apresentou o programa Só Toca Top e foi um dos jurados do The Voice +.

Atualmente, a música é seu principal foco. Mas é com carreira multifacetada, que deseja continuar sua trajetória. “Sempre gostei de fazer tudo ao mesmo tempo. Os convites surgiam e eu falava: ‘Eu consigo e vou fazer com maestria’. Nunca desisti. E fazendo tudo com o mesmo prazer”, relata ele, que, nos palcos ou na TV, está sempre bem humorado. “Eu sou um cara que gosto de me aventurar aos sentimentos da arte. O humor me ajuda nos palcos, no dia a dia para eu ficar mais a vontade. Isso faz a diferença”, explica.

Ele acaba de lançar Resenha do Mumu, novo álbum e DVD ao vivo. “Esse projeto já existe faz um tempo. Começou com mil pessoas na Zona Sul muito no estilo de fazer uma resenha, um pagode. Virou um boom, aí começamos a colocar duas, três, quatro mil pessoas. Quando fui ver já estava uma quantidade absurda. Veio a pandemia, paramos, mas resolvemos registrar esse projeto. É uma resenha, um evento onde todo mundo se encontra”, informa. Em seu sétimo álbum, ele conta com a participação de artistas como Ferrugem (Fica e Tudo Fica Blue) e Luisa Sonza (Você Me Vira A Cabeça e Depois Do Prazer). Este e outros clipes, como o de trabalho, Sem Vestígios, foram apresentados  em seu canal do YouTube, onde ele tem 1,4M de inscritos.

A paternidade é outra paixão. Mumuzinho é pai de Hanry, 13,  João, 11, e Kaiki, 10, de relações anteriores. “Os três amam rap. Se vão ser cantores eu não sei, eles que vão decidir. Quero que sejam felizes, isso é o mais importante”, ressalta. E conta que planeja aumentar a prole. “Penso em ter uma menina.”

Ao esclarecer e alertar os filhos sobre racismo ele cita o próprio exemplo. “Ensino que não pode ser algo que eles tem que conviver. O maior ensinamento que posso passar para eles é a minha vida. Eles me olham como exemplo e falam: ‘Meu pai passou por tudo isso e eu quero ser igual a ele’. Essa é a colocação deles”, finaliza.

* Por Carlos Lima Costa

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